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Rua Prudente de Moraes, 716 - Itapetininga - SP, 18200-040

Itapetininga ao longo da sua história, sempre teve importante participação no cenário político do Brasil e até mesmo de alguns conflitos e revoltas armadas e uma dessas participações foi durante a Revolta Liberal de 1842.

Após a abdicação de D. Pedro I em 1831, o Brasil passou por períodos turbulentos, com diversos motins, revoltas e conflitos armados.

Os Partidos Liberal e Conservador, este último com forte influência do Império, passaram a disputar mais acirradamente uma posição no poder e isso levou à uma revolta armada chamada de Revolta Liberal.

A Revolta Liberal teve focos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e aqui em São Paulo o estopim foi aceso na cidade de Sorocaba em 17 de maio de 1842, quando o então presidente da Província de São Paulo, o coronel Rafael Tobias de Aguiar, consagrado liberal sorocabano, foi substituído pelo Barão de Monte Alegre em um decreto do Conselho de Ministros, que era formada em sua maioria por conservadores.

Diante desse acontecimento, foi decidido na câmara de Sorocaba, que os liberais iriam começar uma revolta armada, tendo como líderes o Cel. Rafael Tobias de Aguiar e seu antigo colega de escola, Padre Diogo Antonio Feijó, com o objetivo de marchar até a capital da província de São Paulo, retomar o poder e restituir o cargo dos presidentes substituídos.

Junto com Sorocaba, diversas vilas e cidades se juntaram ao movimento, como Itapetininga, Faxina (atual Itapeva), Itu, Capivari, Porto Feliz e outras, fornecendo combatentes e suprimentos e só de Itapetininga saíram 200 combatentes, sob o comando do Coronel Paulino Ayres de Aguirre, primo do Cel. Rafael Tobias de Aguiar e influente liberal da cidade.

Como visto, o Cel. Rafael Tobias de Aguiar possuía laços com Itapetininga, era filho de Gertrudes Eufrosina Ayres, família itapetiningana, além de possuir propriedades na cidade.

O pequeno exército organizado por Tobias de Aguiar era formado de homens com muito pouco treinamento e armamentos obsoletos.

O Império por sua vez, possuía homens muito bem treinados, bem equipados e em número muito superior aos revoltosos e tinha como comandante o então Brigadeiro Luiz Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias, com extensa experiência em pacificação de revoltas e que mais tarde se tornaria o Duque de Caxias.

Obviamente, por esses motivos, as tropas imperiais conseguiram rapidamente dar fim aos planos dos revoltosos, com muitos combatentes presos, muitas deserções e outros foram mortos, principalmente no episódio conhecido como Batalha da Venda Grande na cidade de Campinas, ocorrido no dia 07 de junho de 1842.

O objetivo de Caxias agora, era capturar os líderes da revolta e iniciou uma verdadeira caçada ao Cel. Tobias de Aguiar.

Tobias de Aguiar, sabendo o que aconteceria a ele se fosse capturado, decide então fugir para o sul do Brasil, para tentar se juntar a outros revoltosos, os Farrapos e o caminho livre para chegar lá seria passando por Itapetininga e em seguida atravessar o atual estado do Paraná.

Com muitas dificuldades, ele conseguiu chegar em Itapetininga e se refugiou na Fazendo Bom Retiro, onde hoje fica o bairro da Pescaria e que era de propriedade de Joaquim José de Oliveira, seu amigo e de quem era compadre.

Na fazenda, foi recepcionado pela esposa de Joaquim, a senhora Joaquina Antonia Oliveira da Silva, já que o marido estava fora da cidade.

Tobias com a ajuda da senhora Joaquina, fica refugiado e esperando que as tropas de Caxias tomassem outro rumo, mas não foi o que ocorreu.

Durante uma madrugada, os escravos da fazenda alertaram a senhora Joaquina, de que a fazenda estava cercada por soldados e ela imediatamente pediu para seu capataz, um rapaz chamado Agostinho, para esconder Tobias até que as tropas fossem embora.

Agostinho levou Tobias para o engenho, onde havia uma bica de água e ali diversas plantas que pareciam festões, cobrindo toda a área.

Ele e Tobias se esconderam atrás dessas plantas e ficaram vendo por entre elas, os soldados de Caxias revistando completamente o lugar, todos os cantos, inclusive os telhados, mas por pura sorte, não foram verificar as plantas aquáticas na bica.

As tropas então convencidas de que Tobias não estava ali, recuaram, dando liberdade para que o coronel continuasse sua fuga em direção ao Rio Grande do Sul.

Com a ajuda de vaqueiros que serviram de guia, conduziram Tobias até o Paraná, onde ele se encontrou com Francisco das Chagas do Amara Fontoura, pai do Dr. Ubaldino do Amaral.

No Rio Grande do Sul ficou até dezembro de 1842, quando foi capturado pelas tropas de Caxias e enviado ao Rio de Janeiro, ficando preso por 2 anos, e após esse período, foi anistiado pelo próprio D. Pedro II em 1844.

Tobias de Aguiar foi casado com a Marquesa de Santos, Domitila de Castro Canto e Melo, uma ex-amante de Dom Pedro I. Em uma das viagens de Santos para a capital do Império o Brigadeiro foi acometido por uma grave moléstia a bordo do vapor Piratininga que o levou à morte, no dia 7 de outubro de 1857.

Por fim, deixo registrado aqui essa passagem pequena, mas tão importante, que Itapetininga teve nessa revolta e na vida do coronel Rafael Tobias de Aguiar, que hoje é o patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Algumas curiosidades:

  • Em Itapetininga residiam importantes personalidades liberais e em Tatuí de conservadores. Quando Itapetininga formou tropas liberais, essas marcharam para Tatuí, que tinha formado tropas conservadoras e prenderam os itapetininganos que passaram por lá. As duas cidades tiveram por muito tempo uma “rivalidade”, sendo lembrada até hoje por algumas pessoas.
  • Rafael Tobias de Aguiar também ficou famoso pelo comércio de cavalos entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. Nessa época, os cavalos das forças militares do império eram de uma única cor, geralmente cores escuras.

Tobias queria cavalos diferentes para as suas tropas e escolheu o malhado dos cavalos pampa, o qual ele aperfeiçoou a raça em suas criações, surgindo assim a raça Tobiana, reconhecida no mundo inteiro e até hoje comercializada.

  • Em 1846, o imperador dom Pedro 2º refez o itinerário da Revolução Liberal em São Paulo, passando pelas cidades conquistadas pelos revoltosos. Como guia, chamou Rafael Tobias de Aguiar, líder da revolta que havia mandado conter. Os dois cavalgaram juntos.

Post Author: Peiretti

Cadeira 11, patrono Luiz Gonzaga da Silva Leme