O município de Itapetininga muito tem de se orgulhar por ter sido berço de bravos e terra de heróis que participaram de revoluções e guerras na História Militar de nosso Brasil. De fato, há pouco mais de 88 anos atrás, mais precisamente à 9 de julho de 1932, nosso país encontrava-se no início de um período de grave e profunda comoção. Tratava-se da deflagração da última guerra civil ocorrida em solo brasileiro, a Revolução Constitucionalista de 1932.
Com efeito, a Revolução de Constitucionalista de 1932 foi o maior movimento cívico de toda a história do Estado de São Paulo. Um movimento popular, com o concurso de armas, por uma nova Constituição do país em meio à ilegalidade imposta pelo regime ditatorial de Getúlio Vargas que por intermédio da Revolução de 1930 havia deposto o presidente Washington Luís e impedido a assunção do itapetiningano Dr. Júlio Prestes de Albuquerque à presidência da República.
Como resultado e com a falha das negociações pacíficas para se obter suas aspirações mais caras e prementes, São Paulo se arma para, sublevado e, à princípio, com o apoio de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, depor o ditador Getúlio Vargas e promover a necessária constitucionalização do país.
Não obstante, poucas horas após a deflagração do movimento naquele fatídico 9 de julho de 1932, ficara São Paulo sozinho na contenda e, ao seu derredor, pelos quatro cantos de seu território, rugiam acintosamente centenas de milhares de tropas adversárias do Exército, da Marinha e de Forças Públicas dos mais diversos estados do Brasil.
A estratégia adotada pelo comando em chefe do Exército Constitucionalista formado para defender São Paulo foi a de dividir o estado em três setores, a saber, o leste, o norte e o sul, sendo para cada um deles seria organizado um exército composto por militares do Exército Brasileiro favoráveis à São Paulo, militares da Força Pública estadual e voluntários civis de todos os matizes e camadas sociais paulistas.
O terceiro desses setores, o Sul, teve em Itapetininga, a sede do Quartel General de seu exército, este denominado Exército Constitucionalista do Setor Sul, que nesta cidade contou com enorme rede de serviços de abastecimento, intendência, recrutamento, treinamento e saúde.
O Quartel General do Exército Constitucionalista do Setor Sul, então sediado pelo prédio da atual Escola Estadual Peixoto Gomide, foi o centro nevrálgico de toda a ação combativa da Revolução Constitucionalista nesta importante e estratégica porção de nosso estado, tendo como seu comandante o bravo coronel de artilharia Brazílio Taborda e como luzido Estado Maior oficiais do Exército Brasileiro e da Força Pública bandeirante.
O atual prédio do DER sediou nesse duro período quartel de voluntários paulistas que afluíam em massa para compor batalhões em Itapetininga, tendo sido, ainda, hospital de sangue para atendimento dos feridos em ação, como também o fora o Instituto Imaculada Conceição, a Loja Maçônica Firmeza, o Clube Venâncio Ayres e outras tantas entidades locais, as quais nos 89 dias que durou a revolução chegaram a atender mais de 800 combatentes feridos advindos das frentes de combate em Itararé, Buri, Itapeva, Guapiara, Apiaí, São Miguel Arcanjo, Apiaí, Campina de Monte Alegre, Capão Bonito, Buri, Rio das Almas e Paranapanema.
Foram contra estas localidades, todas pertencentes ao setor sul de nosso Estado, que forças adversárias sob o comando do General Waldomiro Castilho de Lima marcharam, em muito superiores nos efetivos, nos armamentos e nas munições, mas não no idealismo, na bravura e na coragem que quase 5000 paulistas, entre civis e militares, souberam defende-las no parapeito das trincheiras, nas barrancas dos rios e nos campos abertos sob o frio cortante da baioneta, o calor estraçalhante da metralha e os bombardeiros dos canhões e da aviação inimiga, muitos com o sacrifício da própria vida, entre tantos mutilados e feridos.
Hoje, a 09 de julho de 2020, comemoramos por meio desta solenidade os 88 anos da Revolução Constitucionalista no Setor Sul, um Exército de voluntários civis e militares paulistas que no mês de agosto de 1932 realizou as ofensivas mais decisivas da epopeia de 32 neste setor, a exemplo do combate de Buri, quando faleceu de armas na mão o então cadete Ruytemberg Rocha, nesta feita consagrado um dos heróis da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Foi também no Setor Sul que entrou em ação pela primeira vez em toda a Revolução de 32, o trem blindado e o auto blindado, armas da genialidade bélica paulista que a comando do intrépido capitão Afonso Negrão pesadas baixas trouxeram às forças governistas nos combates ocorridos em Buri, em Capão Bonito e em Ligiana.
Ainda no Setor Sul unidades de escol formadas pela fina flor do voluntariado paulista se bateram pela causa da Constituição, realizando verdadeiros atos de bravura e heroísmo, a citar as unidades militares dos batalhões 14 de Julho (universitários paulistanos), o 1º, o 6º, o 7º, o 9º e o 10º Batalhão de Caçadores da Reserva, o Regimento de Cavalaria 9 de Julho, o 8º e o 9º Batalhão de Caçadores Paulistas, o Borba Gato, o Marcilio Franco, o Floriano Peixoto, os voluntários de Itapetininga, entre tantos outros.
Também abrilhantaram o Setor Sul as tropas afrodescendentes que compuseram a Legião Negra, tendo a lendária Maria Soldado seu batismo de fogo nos combates havidos neste mesmo setor nas terríveis jornadas dos combates do Morro do Alemão e do Fundão em Capão Bonito.
Tal como ocorreu no setor Norte e no Setor Leste, muito se lutou, muito se defendeu e muito se sacrificou no Setor Sul do Estado de São Paulo durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
Estas palavras visam prestar um preito de homenagem à memória e aos feitos de todos os paulistas que aqui em Itapetininga formaram batalhão, integrando o Exército Constitucionalista do Setor Sul na luta pela Constituição, pela Liberdade e pela Democracia.
Proferir todos os seus nomes seria tarefa impossível.
Nomes esses todos que consolidaram em uníssono a nossa PÁTRIA BRASILEIRA, a qual rendo o meu mais sincero preito de agradecimento.
Afrânio Franco de Oliveira Mello